quinta-feira, 3 de outubro de 2013

História do Chá 


De acordo com a mitologia chinesa, há cerca de 4700 anos, por volta do ano 2737 a.C., o lendário segundo imperador da China, Shen Nong ou Chen-nong, que segundo a lenda teria inventado nada menos que a roda e a charrua, teria igualmente «inventado» a bebida nacional da China num manifestação de serendipidade em tudo semelhante à maçã de Newton. Conta a lenda que o chá nasceu quando Shen Nong esperava debaixo de uma árvore pela ebulição da água - que reza a lenda o monarca teria igualmente introduzido como forma de prevenir epidemias - e o acaso teria causado a queda de duas folhas e um rebento de Camellia sinensis dentro da água fervente. O aroma que se desprendeu, devido entre outros compostos a metabolitos de carotenóides como teaspirano e iononas, despertou a atenção do monarca que terá assim introduzido um hábito que se tornaria indissociável da cultura chinesa.
  • Embora as origens da bebida estejam envoltas em lendas, é certo que durante a dinastia Tang teve início a sistematização da informação referente ao chá, com a publicação em 780 da primeira obra devotada ao tema, o «Livro do Chá» (Cha Jing) de Lu Yu, um poeta errante adoptado na sua infância por Chi Chan, o abade do mosteiro zen Nuvem do Dragão na província de Hunan. No seu prefácio da tradução do livro, Francis Ross Carpenter realça que antes de Lu Yu, o chá era uma bebida sem nada de especial e Yu com os seus 20 tratados sobre o chá, incluindo um discutindo a importância da água utilizada na sua confecção, transformou uma simples extração com água numa arte ritualizada. Durante as dinastia Tang e Sung eram populares os concursos que tinham o chá como objecto e poetas como Lu Tung, igualmente um mestre do chá, foram inspirados por esta bebida que figura em parte da sua obra.
    Os japoneses - entre os quais se desenvolveu o cha-no-yu, um complexo ritual envolvendo a preparação e consumo desta bebida -, têm igualmente uma lenda que atribui a Boddhidharma a invenção do chá, mas é aceite que o chá foi introduzido no Japão no início do século IX pelo monge Saicho (mais tarde Dengyo Daishi). Em 804, o imperador Kammu - que tinha transferido a capital de Nara para Heian (Kyoto) devido a lutas de poder entre a aristocracia e a elite clerical budista - enviou para a China duas figuras que, ironicamente, viriam a tornar-se incontornáveis no budismo japonês, Saicho, que para além do chá introduziu o budismo Tendai (ou Tien-t'ai no original chinês) e Kukai que introduziu o budismo Shingon.
    As formas diferentes de preparação das folhas de chá, dando origem ao que hoje classificamos como chá verde (e branco), preto e oolong, foram introduzidas na China durante a dinastia Ming (1368-1644 d.C) e basicamente têm a ver com o estágio em que as folhas são processadas com calor. Depois de colhidas as folhas, inicia-se um processo designado no léxico do quotidiano por fermentação embora o termo seja incorrecto porque com excepção do chá pu-erh não há qualquer micro-organismo envolvido no processo e a dita fermentação do chá é simplesmente a oxidação, mais concretamente a oligomerização oxidativa, de polifenóis existentes no chá.
    (Por: Edgar Leal )

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